A morte de pessoas com a febre maculosa, provavelmente infectadas em uma festa na fazenda Santa Margarida, em Campinas, chamou a atenção de todo o país para os riscos da doença. Um casal que participou do evento percebeu picadas de insetos no corpo e, após alguns dias, começou a sentir febre. Os doi procuraram atendimento médico, mas foram a óbito após a internação. Exames laboratoriais comprovaram que as mortes se deram por causa da febre maculosa.
Os hospedeiros dos carrapatos são mamíferos como cães, bois, cavalos e capivaras, predispostos à infecção por Rickettsia. Eles mantêm níveis circulantes da bactéria na corrente sanguínea, o que causa a infecção de carrapatos que deles se alimentam. Cada fêmea de carrapato infectado pode gerar até 16 mil filhotes aptos a transmitir a bactéria.
Segundo o gerente de Zoonoses da SES-DF, Isaías Chianca, os sintomas iniciais da doença são comuns a outras enfermidades — como febre, dor de cabeça, olhos vermelhos e calafrios — e buscar atendimento de emergência quando os sintomas aparecerem de forma repentina é fundamental. “Se a pessoa tiver febre, de moderada a alta, com histórico de ter frequentado zona rural ou cachoeira, deve procurar atendimento imediatamente e relatar que esteve nestas áreas”, frisa.
O gerente explica também que as lesões causadas pelo carrapato são parecidas com uma picada de pulga, às vezes, pequenas hemorragias que aparecem em todo o corpo, nas palmas das mãos e na planta dos pés. Em nota, a SES-DF esclarece que o Distrito Federal não é uma área endêmica das doenças transmitidas pelo carrapato, porém, possui áreas com condições paisagísticas favoráveis à ocorrência dos aracnídeos, como os parques urbanos e trilhas, principalmente no período de seca.
Escorpiões
Além da febre maculosa, causada e transmitida por picada de carrapato infectado com bactérias da família
Rickettsia, outro risco para a saúde da população está nas ruas, nas matas e nos bueiros. São os escorpiões, cujos acidentes envolvendo o aracnídeo aumentou 45% no DF. Dados da SES/DF revelam que foram feitas 1.222 chamadas para captura do peçonhento entre janeiro e maio deste ano, enquanto no mesmo período ano passado foram 899.
Em 1º de janeiro deste ano, o menino Thomas Caetano, de 2 anos, foi picado por um escorpião e ficou 100 dias internado na Unidade de Terapia Intensiva (UTI). Dados da Secretaria de Saúde do DF revelam que casos como o dele aumentaram em 45% nestes seis meses.
De acordo com o biólogo e gerente da Vigilância Ambiental de Vetores, Animais Peçonhentos e Ações de Campo (Gevac), Israel Moreira, nos últimos dez anos o número de escorpiões tem aumentado bastante. “Saímos de 400 ou 500 casos para mais de 2 mil. Pontos como a ocupação irregular do solo e as mudanças climáticas contribuem para o surgimento dos aracnídeos e, consequentemente, para o aumento no número de acidentes”, explica.
Thomas foi picado cinco vezes atrás da cabeça por um escorpião enquanto dormia ao lado da mãe. A criança foi socorrida no Hospital Regional de Taguatinga (HRT), onde havia disponibilidade do soro escorpiônico. A agilidade do pai no socorro ao filho e a captura do bicho foram decisivos para salvar a vida de Thomas. Os ferimentos na cabeça lhe causaram uma necrose aberta que durou seis meses para cicatrizar. Além disso, o veneno do bicho atingiu o coração do menino e a falta de oxigênio no cérebro comprometeu outros órgãos, como rins, fígado, coração e pulmão.
Três perguntas para especialista
Dra. Lívia Vanessa, infectologista e vice-presidente da Sociedade de Infectologia do Distrito Federal:
Quais são os locais de risco no DF para picadas de carrapato? Pode dar exemplos?
Os carrapatos geralmente são transmitidos em áreas rurais, principalmente locais com bois, cavalos ou capivaras. O DF não é uma área endêmica das doenças transmitidas pelo carrapato, porém, possui áreas com condições favoráveis à ocorrência de carrapatos, como os parques urbanos com trilhas, matas, principalmente no período de seca.
Como o cidadão pode saber que o carrapato é hospedeiro de alguma doença, como a Febre Maculosa? Todo carrapato transmite doença?
A febre maculosa é causada por bactérias do gênero Rickettsia, transmitidas por um tipo de carrapato não encontrado no DF, o carrapato-estrela. Após ser picado por carrapato-estrela, o mesmo tem que permanecer por pelo menos 4 horas para infectar o indivíduo; a febre maculosa pode se apresentar entre 2 e 14 dias (média de 7 dias). Os principais sintomas são: febre alta, dor de cabeça, dor muscular intensa, manchas pelo corpo, inchaço em extremidades (mãos e pés), mal estar geral, náuseas e vômitos. Pode evoluir com quadro de insuficiência renal, meningoencefalite, paralisia e até mesmo insuficiência respiratória e óbito.
Ao ser picado, como o cidadão deve proceder? Há algum repelente para evitar carrapatos?
Ao visitar áreas rurais, especialmente de mata e que tenham animais, o recomendado é utilizar calças e botas, mangas compridas. Existem repelentes contra carrapatos, em geral à base de DEET, permetrina ou icaridina. Os carrapatos devem ser retirados com pinça, álcool e algodão e não devem ser esmagados. Preferencialmente, procure um serviço de saúde para extraí-los. A doença tem tratamento e, se iniciado antibiótico específico nos primeiros 5 dias, evita-se que evolua para formas graves e para óbito.
*Com informações do Correio Braziliense