Encontro reúne voluntárias da Rede Feminina de Combate ao Câncer em uma roda de acolhimento e histórias inspiradoras no jardim do Hospital de Base
Por Pollyana Cabral
“Eu tive câncer, mas ele nunca me teve”. Essas palavras são da Fátima Cardoso, carinhosamente conhecida como Fatinha, diagnosticada com a doença em 2018. No ano seguinte, ela virou voluntária na Rede Feminina de Combate ao Câncer, durante o tratamento oncológico. Onde, segundo ela, teve forças para continuar.
“Naquele momento, eu estava assustada e com medo. Mas fui acolhida com tanto carinho que descobri dentro de mim uma força que eu nem sabia que existia. A Rede mudou o rumo da minha vida”.
Fatinha é uma das 25 mulheres que, na última quarta-feira (22), se reuniram no jardim do Hospital de Base do Distrito Federal, na Casa Rosa, sede da Rede Feminina. E o mês dedicado ao combate ao Câncer de Mama não poderia ser mais propício para a tarde que elas tiveram. Voluntárias que já foram pacientes, pacientes que se tornaram voluntárias e novas integrantes, se uniram por um mesmo propósito: compartilhar histórias, dividir esperanças e celebrar a vida.

O encontro foi idealizado pela coordenadora das tardes de quarta-feira, Cláudia Silveira, que quis retribuir o carinho das voluntárias que todos os dias acolhem com amor quem enfrenta o tratamento contra o câncer.
“Eu pensei: por que não fazer uma tarde diferente? São essas mulheres que sempre acolhem. Então, hoje, quis que fossem acolhidas, que tivessem voz e pudessem dizer como se sentem. Esse é um momento de escuta, de amor e de gratidão. É o que chamo de loucura de amor”, relata emocionada.
Voluntária há 15 anos, a coordenadora lembrou que, desde jovem, já se dedicava ao trabalho social em sua cidade natal. Ao mudar-se para Brasília, buscava um novo espaço para servir e, por morar perto do Base e ter uma tia que também era voluntária, conheceu a Rede Feminina, que, segundo ela, nunca mais saiu do coração.
Sob uma tenda decorada com flores e laços cor-de-rosa, histórias de coragem e superação ecoaram pelo jardim, arrancando lágrimas e sorrisos. Teve abraço apertado, troca de presentes e uma mesa farta de quitutes preparados especialmente para o momento. A ideia é que encontros como esse sejam realizados semanalmente, em dias alternados, para que todas as voluntárias possam ser agraciadas.
Histórias que inspiram
Entre os depoimentos mais emocionantes estava o de Mônica Custódio, 47 anos. Em 2019, ela descobriu um câncer de mama e, durante o tratamento, tornou-se voluntária da Rede Feminina. Hoje enfrenta um novo desafio, o câncer de útero, mas segue firme, com o mesmo brilho nos olhos.
“Minha família mesmo virou as costas para mim, mas aqui eu encontrei outra família. A Rede me acolheu, me buscou em casa, me deu força para continuar. Nós somos uma família. Aqui, a gente não se entrega. A gente luta de cabeça erguida e com sorriso no rosto”, compartilha com a voz embargada.
Mônica ainda acrescenta que é grata por poder ajudar e que está sempre disponível para colaborar a qualquer hora e de qualquer forma.
Um elo que transforma vidas
A coordenadora da Rede Feminina, Larissa Bezerra, explicou que a iniciativa foi pensada para fortalecer os laços entre as voluntárias.
“Esse encontro é uma forma de integrar quem está chegando e reacender o sentimento de pertencimento em quem já está há anos conosco. Muitas dessas mulheres passaram pelo câncer e hoje são exemplos de amor e empatia. O acolhimento é o coração da Rede, ele pulsa todos os dias nas doações, nos sorrisos e nas palavras de conforto”, destaca.
Além das trocas de experiências, o encontro contou com a participação do cantor Lucas Alvez, da dupla Lucas Alvez & Guilherme. Voluntário da Rede desde fevereiro deste ano, ele encantou as participantes com canções que embalaram o clima de leveza e emoção.
“Conheci a instituição quando acompanhava uma pessoa em tratamento. Vi o trabalho incrível que fazem aqui e quis fazer parte. Hoje, posso retribuir com o que sei fazer, cantar”, explica.
A tarde na Casa Rosa foi mais do que um encontro, foi um lembrete de que o amor cura, fortalece e une. Cada mulher ali reafirmou o verdadeiro sentido do voluntariado, doar-se ao outro, mesmo quando ainda se está em processo de cura. “Hoje fomos acolhidas. Hoje, quem sempre dá, recebeu. E saímos daqui ainda mais fortes, mais unidas e mais gratas pela vida”, resume Fatinha.
Sobre a Rede Feminina de Combate ao Câncer
Criada em 1984, a Rede Feminina de Combate ao Câncer do Hospital de Base é uma instituição parceira do Instituto de Gestão Estratégica de Saúde do DF (IgesDF) que atua diariamente no acolhimento de pacientes oncológicos e familiares.
Mantida por voluntárias, a Rede desenvolve cerca de 40 projetos sociais e conta com 150 integrantes ativas. O trabalho da instituição inclui a oferta de lanches diários para pacientes e acompanhantes, doação de perucas, próteses mamárias e kits de higiene, atividades de artesanato com pacientes, corte de cabelo e barba, inclusive para os acamados, e atendimento musical e cultural com voluntários.
Com sede no Jardim do HBDF, a Rede simboliza empatia e solidariedade, oferecendo conforto, força e esperança a quem enfrenta o câncer no Distrito Federal.











