Na Semana dedicada ao Meio Ambiente, onde temos um olhar um pouco diferenciado nas relevantes problemáticas ambientais do nosso quadradinho, o DF, do Brasil e do mundo, o Blog da Zuleika ligou as antenas sobre uma possível crise hídrica e hidrelétrica em vários estados em 2021, como já foi alertado pelo Sistema Interligado Nacional. Fomos conversar com o ex-distrital Raimundo Ribeiro, atualmente presidente da Adasa, a Agência Reguladora de Água do DF. Gato escaldado tem medo de água quente. Você acredita que não vamos mais ter racionamento de água?
Blog da Zuleika – Goiás foi incluído no alerta de escassez hídrica. Como o DF conseguiu não entrar?
Raimundo Ribeiro- O alerta de escassez hídrica foi emitido para a bacia do rio Paraná como um todo, em razão do déficit de precipitação observado na bacia na última estação chuvosa, considerando que essa região concentra os principais reservatórios de regularização do Sistema Interligado Nacional – SIN.
O Distrito Federal ficou fora dessa condição por dois fatores. Primeiramente por que não tem nenhum dos principais reservatórios de geração de energia hidroelétrica dentro dos seus limites geopolíticos. Em segundo lugar, por ter recebido um volume de chuvas maior do que foi precipitado nas regiões vizinhas. Os dois grandes reservatórios de abastecimento de água do DF, Descoberto e Santa Maria, atingiram 100% do volume útil no último ciclo de chuvas.
Se Corumbá IV é nossa reserva para o futuro e está em Goiás, como fica a situação dos recursos hídricos nos dois estados?
O funcionamento da adução de Corumbá IV trará um acréscimo significativo de água para abastecimento do DF. Apesar da grande relevância de Corumbá para a segurança do abastecimento do DF, o reservatório tem uma participação relativamente reduzida na geração de energia em toda a bacia do rio Paraná. Para fins de esclarecimento, o reservatório de Corumbá IV não faz parte da lista dos principais reservatórios de regularização do SIN. Vale observar que a política de recursos hídricos assegura que, em situação de escassez, o uso prioritário será o de abastecimento humano.
Você acredita que o brasiliense aprendeu a poupar água com a nossa última crise hídrica?
A crise induziu a população do DF a um aprendizado forçado sobre uso racional e consciente da água. Como é esperado da natureza humana, alguns aprendem e carregam consigo o aprendizado enquanto outros voltam e retomam seus hábitos antigos assim que a crise passa. De modo geral, é possível observar uma redução do consumo per capita de água no DF ao longo dos últimos anos. A pandemia do Covid-19 alterou significativamente a normalidade das atividades domésticas e comerciais, o que dificulta uma análise mais correta dos valores de consumo de água no DF desde março de 2020. O certo é que campanhas de conscientização e atividades de educação ambiental são fundamentais e sempre necessárias para a consolidação dos bons hábitos de consumo racional.
Qual o trabalho da Adasa que a população pode sentir?
A Adasa monitora os reservatórios e regula os usos da água superficial e subterrânea no DF. A autorização dos usos da água por meio da outorga, a fiscalização remota e em campo, e o monitoramento das chuvas e das vazões nos rios permitem garantir o uso sustentável dos recursos hídricos, com especial atenção para o atendimento das condições de qualidade da água e manutenção da vazão remanescente nos rios. Todas essas atividades de gestão integrada dos recursos hídricos servem para fortalecer a segurança hídrica no DF.
Como será nos próximos meses?
A Adasa publicará nos próximos dias, como já vem fazendo anualmente, as curvas de acompanhamento dos reservatórios do Descoberto e Santa Maria. Essas curvas orientam a operação sustentável dos reservatórios, de modo que haja otimização da água utilizada para o abastecimento do DF no período de estiagem, a fim de atender as demandas atuais e ainda garantir uma boa recuperação nos níveis de enchimento no próximo ciclo de chuvas. As simulações iniciais indicam que não haverá problemas nesses reservatórios no corrente ano.
Qual o risco de entrarmos na lista dos estados de alerta?
Conforme colocado nas respostas anteriores, o DF foi favorecido com chuvas acima da média da região, os reservatórios do DF não fazem parte dos principais reservatórios de regularização do Sistema Interligado Nacional – SIN, e os valores atuais de volume útil indicam que não haverá problemas para abastecimento por meio dos sistemas Descoberto e Santa Maria em 2021. A condição do DF, portanto, é bem diferente dos demais estados. Por isso, não se encontra no estado de alerta.
Qual a mensagem à população do DF?
Devemos lembrar que a população continua aumentando, o crescimento econômico demanda mais recursos, principalmente hídricos, mas a quantidade de água continua basicamente a mesma. E mais grave, a impermeabilização do solo e a poluição tornam a água limpa mais escassa e mais cara. As mudanças climáticas trazem ainda mais complexidade à gestão dos recursos hídricos quando os caprichos da natureza decidem aumentar as chuvas em uns anos e diminuí-las em outros. Por isso, todos devem aprender a fazer mais com menos. Utilizar equipamentos e dispositivos poupadores de águas nas suas instalações domésticas, industriais e comerciais. Adotar práticas de manejo racional da água na agricultura irrigada. Implementar medidas de reúso da água e aproveitamento de água da chuva, sempre que possível, de forma segura e responsável.