Passados mais de 15 anos, as cenas de abuso, pavor e desespero estão vivas na mente de uma vítima de violência sexual, atualmente com 21 anos. A pessoa é uma das 26 vítimas do catequista José Antônio Silva, 49, foragido da Justiça há 2 anos e 8 meses sob acusação de violentar diversas crianças no Guará há, pelo menos, duas décadas. Algumas delas estão adultas, como essa pessoa que, sob a condição de não revelar nome e sexo, concedeu entrevista ao Correio.
Os abusos cometidos por José vieram à tona no começo de julho de 2019, após a Justiça decretar a prisão preventiva do acusado. As investigações começaram três meses antes, depois do registro da primeira denúncia feita por um parente dele. As apurações revelaram que os alvos eram, principalmente, meninos de 4 a 12 anos. Em quase 20 anos, foram, ao menos, 26 crianças, todas moradoras do Guará. À época, a população ficou em choque e desesperada. Isso porque, alguns dos menores frequentavam a escolinha de futebol que José mantinha de maneira voluntária, na quadra esportiva pública da região administrativa. Outra parte das vítimas eram os próprios sobrinhos.
Ao longo dos anos, José, mais conhecido como “Tóin” ganhou a confiança da comunidade, justamente por ser catequista e professor de futebol. Mas a farsa logo teve um fim, após o registro do primeiro de centenas de boletins de ocorrência. Aos 30 anos na época, um familiar de José procurou a 4ª Delegacia de Polícia (Guará) e confessou que tinha sido uma das vítimas. Em depoimento, o homem relatou que havia tomado a decisão após ter um filho e temer uma investida do pedófilo.
Os detalhes de um abuso
Para atrair as crianças, o catequista convidava as crianças para fazer brincadeiras e até oferecia dinheiro em troca. Os estupros ocorreram na própria casa do acusado enquanto a ex-mulher estava no trabalho. Em depoimento, a mulher relatou que não desconfiava do marido. Com apenas 5 anos, a vítima presenciou cenas estarrecedoras.
De acordo com o relato da pessoa, José praticava atos sexuais na frente dela. “Ele dizia que aquilo era bom e gostoso para que crescessem fortes e saudáveis. Dizia, ainda, que era pra eles fazerem isso com as namoradas”, acrescenta.

Enquanto estuprava os menores, o pedófilo entregava o celular às vítimas com um jogo de quebra-cabeça, em que, juntando as peças, formava a imagem de uma criança nua. “O foco dele era crianças, então, tudo relacionado à pornografia infantil tinha no celular dele. Ele colocava as vítimas para assistirem”, detalha. Ao ver os abusos, a vítima tentava fugir para o banheiro e fechava a porta, mas José abria e cometia abusos contra ela.
Fuga
Nascido no Maranhão, José Antônio cresceu no Guará, onde morou até os 40 anos na casa de parentes, na QE 17. Quando se casou, passou a morar com a esposa, na QE 40. Ele chegou a dar aulas na Paróquia Divino Espírito Santo, na QE 34, e organizou jogos de futebol em quadras esportivas das QEs 38 e 40. Após conquistar a confiança dos pais, José passava a presentear as crianças. Diariamente, ele passava na casa dos meninos e os buscava para levá-los aos jogos, em uma Fiorino. Depois do treino, dava doces, salgados e refrigerantes a eles.
*Reportagem de Darcianne Diogo para o Correio Braziliense