Cimenteiras do DF preparadas para o coprocessamento do lixo

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A fábrica de cimento Ciplan está licenciada pelo GDF a realizar o coprocessamento

O tratamento de resíduos urbanos e seu uso como fonte de energia na fabricação de cimento foi o tema da 377ª reunião ordinária da Diretoria Plena da Federação das Indústrias do Distrito Federal (Fibra)

O gerente de Relações Institucionais da Associação Brasileira de Cimento Portland (ABCP), Mário William Esper, e o diretor-presidente do Serviço de Limpeza Urbana do Distrito Federal (SLU), Felix Palazzo, foram os convidados a falar sobre o tema. Além de diretores, participaram do debate na Federação gestores e donos de empresas do setor industrial.

“O aproveitamento dos resíduos não passíveis de reciclagem aumenta a vida útil dos aterros e colabora para a redução dos gases de efeito estufa, contribuindo para que o tão necessário desenvolvimento sustentável seja alcançado”, afirmou o diretor de Meio Ambiente e Sustentabilidade da Fibra, Dario de Souza Clementino, ao chamar a atenção para a importância de se discutir o tema.

Na fabricação de cimento, o coprocessamento de resíduos substitui parte do uso de combustível fóssil para o funcionamento dos fornos. Reduz o uso do coque de petróleo, recurso natural não renovável, e o volume do que é enviado ao aterro sanitário. No Distrito Federal, as cimenteiras só estão autorizadas a fazer o coprocessamento de pneus, que libera CO² na atmosfera, uma vez que há incineração. Ainda não há regulamentação sobre a produção de combustível derivado de resíduos urbanos (CDRU), processo pelo qual os resíduos passam por uma triagem, são triturados e secos.

O SLU estima que 35% dos resíduos urbanos do Distrito Federal poderiam se transformar em CDRU. Segundo Felix Palazzo, a autarquia trabalha em um projeto para a exploração das áreas de transbordo que traga confiança a quem quiser investir na produção do combustível. “Vamos construir um projeto com a participação do Ministério Público, do Tribunal de Contas e da Controladoria-Geral, para garantir a segurança do investimento”, informou o diretor-presidente do SLU.

“Além de menos poluente, o CDRU é mais barato, o que reduz o custo de produção e aumenta a competitividade do produto”, destacou Esper, da ABCP, ao apresentar números. Na Europa, em 2017, 41% da alimentação de fornos para a produção de cimentos veio do coprocessamento de CDRU. Na Alemanha, o combustível alternativo foi responsável por 65% da alimentação de fornos para a produção de cimento. A produção brasileira de CDRU para as cimenteiras foi baixa no período: 11%.

Para as cimenteiras, a regulamentação da produção em Brasília é urgente. “Estamos prontos para receber o CDRU em nossa planta no DF, mas ainda não estamos utilizando por ser um produto que precisa de uma logística curta para ser eficiente financeiramente”, disse César Antônio Moura, gerente regional de Coprocessamento da Votorantim Cimentos para as Regiões Centro-Oeste, Norte e Nordeste. A Ciplan também está preparada. “Significa a sobrevivência da indústria cimenteira”, declarou Mariana Queiroz, engenheira de processos da empresa.

Para abastecer as duas cimenteiras, o SLU pretende utilizar a Área de Transbordo de Sobradinho, em parceria com a iniciativa privada. O espaço recebe rejeitos coletados nas regiões administrativas da área norte do DF, como Sobradinho e Planaltina. Segundo o diretor-presidente do SLU, são estudadas formas de concessão de parte do espaço para a triagem dos rejeitos, a separação dos recicláveis e a produção do CDRU. “Hoje levamos para o aterro sanitário quase 90% do que recolhemos, o que é um desperdício muito grande de matéria-prima. Além dos recicláveis valiosos, como latas e garrafas PET, há o resíduo sólido útil para as cimenteiras, que tornam uma planta como essas economicamente viável.”

A regulamentação da produção de combustível derivado de resíduos urbanos no Distrito Federal vai ao encontro da visão de desenvolvimento sustentável defendida pela Fibra. “O uso de energias alternativas não é uma opção, já passou a ser uma necessidade”, disse o presidente da Federação, Jamal Jorge Bittar.

Texto: Nilson Carvalho
Foto: Moacir Evangelista/Sistema Fibra
Assessoria de Comunicação do Sistema Fibra

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