Por Patrícia Guimarães
Pouco se fala dessas crianças que presenciam a violência doméstica em seus lares. Crianças essas que crescem vendo o sofrimento e sangue em seus lares, mas nada podem fazer.
Ao ouvirem os gritos de suas genitoras a única solução é tampar os ouvidos e tentar imaginar que estão em outro lugar, ou esperar a sua vez de apanhar também.
Crianças que crescem sem a referência de um lar e pais equilibrados. Muitas vezes suas genitoras mudam de parceiros e acabam arrumando outros companheiros que fazem o mesmo que o anterior. É um jogo, onde não é a criança que dá as cartas, somente esperarão que os dias sejam melhores.
Isso quando não tem o dissabor de ter em suas mãos o gosto do sangue de sua mãe que é violentamente tirada dela pelo agressor. Muitas vezes sem nem pensar esse mesmo agressor tira a vida da companheira e dessa criança como ato de vingança, eliminando da terra a descendência da sua suposta amada, assim ele se livra das próximas gerações de uma só vez.
Aqueles que passam da primeira infância lutam com os seus terrores internos, contra traumas que o tempo não apaga. Provavelmente serão homens violentos ou mulheres desiludidas com a vida.
A grande maioria dessas crianças apresenta problemas escolares, problemas sociais e dificuldades em viver em comunidade. Se tornam pessoas que acham que tudo se resolve batendo, porque foi essa opção que lhe fora ofertada.
As meninas tendem a escolher companheiros que fazem o mesmo, como forma de imã, atraem para si o mesmo fantasma que vira sua mãe lutando para fugir. E mais uma vez repetem a rotina da novela da infância, pois temem como suas mães temiam que o pior aconteça e passam entender a dor de sua genitora.
Você deve estar pensando e o ECA, para que serve? O Estado criou o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) e este foi sancionado em 13 de julho de 1990, exatamente dois anos após a promulgação da Constituição. O seu intuito era de amparar toda criança do abandono, violência e exploração, porém necessita de complemento imediato para que essa criança vítima da violência doméstica possa ter esperança em dias melhores.
Pois essas crianças não podem esperar mais por meras interpretações da lei para lhe dizer o que é cabível, necessitam de atendimentos de urgência. Com especialistas qualificados em atendimento familiar, tais como: médicos, psicólogos e até mesmo psiquiatras.
O Estado precisa criar programas específicos para essas famílias que passam pelo transtorno da violência doméstica, que muitas vezes perdem o seu pilar de apoio, passar a olhar tal situação como um todo, com olhar de família no intuito de salvar a individualidade dessas crianças.
Os filhos da violência doméstica têm pouco amparo da sociedade e dos órgãos públicos, estão sendo esquecidos por serem somente e apenas crianças.
- Advogada, especialista em direito penal e processo penal;Atuante em direito de Família e sucessões
Abordagem sensacional de um assunto que é bastante silenciado na nossa sociedade! Espero mais textos… a visão exposta foi muito favorável para criação de opinião. Parabéns!
muito obrigada, sua participação fortalece a nossa luta.