O sol brilhou no último sábado na Santa Luzia, Estrutural, em um final de tarde que marcou o ato protesto de 2025 contra o primeiro feminicídio deste janeiro chuvoso. Por Ana Moura e por todas as mulheres do DF, foi o grito de guerra que libertou a garganta tantas mães, mulheres e homens, da imensa dor de ver vidas tão jovens, ceifadas pela violência doméstica.
Centenas de pessoas se reuniram, na Igreja Católica de Santa Luzia, na Estrutural, para participar do manifesto “Por Ana e por todas as mulheres”. O ato público teve como objetivo expressar a insatisfação da comunidade diante dos recorrentes casos de violência doméstica e feminicídio.

O caso que motivou o protesto foi o feminicídio de Ana Moura, 27 anos, a primeira vítima do crime em 2025 na Estrutural. Ana foi brutalmente assassinada a facadas pelo marido, na frente dos filhos pequenos, no pátio da delegacia local. O crime chocou a população e escancarou falhas na proteção às mulheres em situação de vulnerabilidade.
A assistente social, atualmente conselheira tutelar na terceira gestão e idealizadora do evento, Irene Nascimento, 42 anos, destacou a importância do movimento. “Esse ato surgiu a partir do assassinato brutal da Ana Moura, que era moradora da Estrutural. Em razão desse ocorrido, do sentimento de revolta e da busca por justiça, nós, mulheres da comunidade, nos unimos para realizar este protesto. É um ato em memória da Ana, mas também um alerta sobre o feminicídio, a necessidade de respeito às mulheres e a luta contra qualquer tipo de violência. Estamos aqui para dizer basta”, declarou Irene.
O caso
Após ser esfaqueada, Ana Moura foi socorrida por populares, que procuraram ajuda na 8ª Delegacia de Polícia (Estrutural). O Corpo de Bombeiros Militar do Distrito Federal (CBMDF) prestou os primeiros socorros à jovem, que estava em parada cardiorrespiratória. Ela, no entanto, não resistiu aos ferimentos e morreu, após quase 40 minutos de tentativa de reanimação.
Na segunda (6/1), o acusado do crime, Jadyson Soares da Silva, 41, foi preso na Rodoviária de Formosa, no Entorno do Distrito Federal. Ana já havia registrado ao menos cinco ocorrências policiais por agressão física e ameaça por parte do companheiro.
Mobilização comunitária
A tarde ia se findando e as famílias foram se aglomerando em torno das duas tendas instaladas em frente a Igreja Católica. Ali, em meio ao barro das recentes chuvas, uma esperança ia nascendo e crescendo no peito das mulheres da Estrutural. Uma vontade de serem ouvidas, de serem vistas, de saírem da situação de vulnerabilidade que avilta a primeira infância que fica órfão de seus pais. A mãe, a avó, destruída pela perda de sua filha morta na flor da idade, Ana Moura tinha 27 anos, agora precisará da força de todos para ser mãe/avó novamente, mesmo com o peito cheio de amargura.

Foi uma grata surpresa ver tantas crianças, jovens e idosas, que na onda de dor, criam forças para serem ativistas pela vida. A Rede Social da Estrutural é bastante ativa e atípica, realmente se mobiliza para trazer dignidade, como o Conselho Tutelar, o Direito delas e o CREAS. Lá reencontrei pessoas que há anos, lutam por uma Estrutural melhor, como o assistente social Djalma, a ativista Nazaré, a Débora Maria, a Marta Ovides, a Carmélia da creche Guerreiros da Alegria e tantas outras. Em todas as políticas públicas implantadas dentro daquela comunidade, com certeza tem a visão comunitária deles que vivem na região. Naõ são do oba oba, são do pé na lama e da poeira.

E, o ato protesto não ficará apenas nas palavras. Palavras que calaram fundo na mente e nos corações dos presentes. Uma petição pública foi elaborada para que todos da região possam reivindicar melhorias estruturais que realmente cheguem na ponta dos necessitados do olhar do estado. Precisamos de muitas e muitas assinaturas. Milhares delas e muita mobilização. Para ler e assinar este importante documento, ainda recebendo colaborações, basta passar na Q.04, conjunto 27/28, loja 02. Ao lado do Gulas na Estrutural. E todo comércio vai receber a visita de voluntários para solicitar as assinaturas para dar peso e qualidade às reivindicações.
*Com trechos de informações do Correio Braziliense