Feminicídio da Sandrinha capoeirista: julgamento no Guará será dia 6 de fevereiro

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Era um início de noite tranquilo no Guará I, por volta das 19 horas do dia 4 de março de 2018 (domingo), quando uma grande nuvem de fumaça se alastrou pela principal via de acesso da cidade, vindo do local  onde era a Imobiliária Aderbal Luiz Imóveis, cercado de tapumes e com vários conteiners de construção dentro. O que ninguém imaginava quando o Corpo de Bombeiros foi acionado, é que ali foi cometido uma bárbarie contra uma mulher,  Sandra Rodrigues, a “Sandrinha Capoeirista”, que morreu queimada viva, presa em um dos conteiners.

Reunida em família, Sandrinha lutava para sair da dependência química

 Sandrinha, que tinha 37 anos, deixou dois filhos e toda uma família traumatizada e uma comunidade estarrecida pelo tamanho da crueldade. Só por volta das 23 horas é que sua irmã, Sheiza Braga, começou a ter noção do que havia ocorrido com Sandrinha, devido ao grande burburinho na vizinhança. Uma colega que trabalhava no Subway a avisou. Foram horas de pânico e incertezas até a ida ao IML para reconhecimento do corpo. As suspeitas logo recaíram no companheiro Márcio do Nascimento Batista, 36 anos, conhecido pela alcunha de “Mano”, que foi preso logo em seguida ao crime, com julgamento marcado para o dia 6 de fevereiro, a partir das 9 horas, em júri popular aberto ao público.

Sandrinha na juventude iluminava a todos por sua alegria e paixão pela capoeira

Capoeira Social

Sandrinha, ao lado de sua família, cresceu e estudou nas escolas do Guará. Aprendeu a praticar capoeira e decidiu, na juventude, passar esta prática adiante. Ensinava, gratuitamente, a todos que queriam entrar na roda e aprender. Com seu engajamento social foi colecionando admiradores de uma juventude que não conhecia internet nem Redes Sociais. .A diversão e distrações eram nas pracinhas do Guará. Seu sorriso largo e sua  paixão pela capoeira logo se espalhou, e hoje, os quarentões da cidade tiveram a oportunidade de conhece-la, como o jornalista e radialista Luciano Lima.

Dependência química

O tempo passou e Sandrinha enveredou por caminhos que a família não esperava. A criação de seus dois filhos, Gabriela e Vinícius, foi assumida  por sua mãe, a Nalvinha. Todo o seu empenho por uma vida saudável foi por água baixo quando passou a ser dependente química, como muitos jovens dos anos 90. Sua família a abraçou e ela fez vários tratamentos para deixar o vício. Todos em vão. Ao ter como companheiro, o “Mano”, selou sua triste sorte, com a vida ceifada aos 37 anos de idade e, com muitos sonhos pela frente. Deixar o vício e criar seus filhos com dignidade, segundo relato da irmã.

O sembalnte já estava mais amadurecido pelas batalhas qu não conseguia vencer

Sheiza, clama por justiça

A reação da família enlutada diante da dor foi a fuga. Ir para bem longe para não passar diante do local, palco da tragédia de feminicídio. Dona Nildinha e seus dois netos foram para o Nordeste, Sheiza Braga foi para Vitória no Espírito Santo. Todos destruídos pela dor. Sheiza, que tem o nome de uma heroína das histórias em quadrinhos, se refez e voltou em 2019 para lutar pelo julgamento do suspeito. “Pela minha imã, por mim e por todas às mulheres eu quero justiça”, afirma.

Sheiza Braga, ao meu lado, trouxe a roda de capoeira para o evento contra o feminicídio no Guara:uma forma de homenagear a irmã assassinada

Se juntou aos movimentos contra o feminicídio no Distrito Federal e luta incansavelmente por justiça para todas nós, ainda vivas. “Sabemos que nada trará de volta minha irmã, mas o mínimo que esperamos das autoridades competentes é que a justiça seja feita. Pois ninguém tem o direito de tirar a vida de ninguém. O Márcio não acabou só com a vida da Sandra, e sim da minha família. Perdi uma irmã, meus sobrinhos ficaram órfãos. Nossas vidas foram transformadas, e infelizmente isto não tem conserto”, finaliza Sheiza

A professora aposentada Maria da Guia deixou no Blog da Zuleika um comentário que resume o sentimento de todos os guaraenses: Parabéns, ZULEIKA pela matéria tão importante para nosso contexto social e humano!..
Conheci a menina Sandrinha e sua mãe, a batalhadora Nalvinha que trabalhou muito para criar suas filhas com dignidade.

Parabéns também a Sheiza que como irmã está sempre batalhando por uma justiça necessária, diante da monstruosidade do crime cometido que vitimizou também toda família, amigos e a sociedade!
Que Deus as abençoe sempre
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Sob as penas da lei

O Blog da Zuleika foi em busca de informações com uma advogada criminalista a respeito da possibilidade do julgamento de “Mano”, ser baseado na nova lei  Anti-Crimes que entrou em vigor em janeiro de 2020. E Obtivemos as seguintes explicações da criminalista Giovana Ghersel:

Criminalista Giovana : O suposto criminoso não pode ser julgado com base na pena máxima da lei que não estava em vigor à época dos fatos

“O nosso código penal entende que não é possível a retroatividade da lei para prejudicar o réu. Portanto se ele comete um crime em 2018 que tem uma pena máxima de por exemplo 10 anos e em 2020 essa pena máxima é acrescida para 20 anos, ele não pode ser julgado com base na pena máxima da lei que não estava em vigor à época dos fatos.

 O Código Penal no crime de homicídio estabelece que a pena máxima é 30 anos. Mesmo que ele tivesse realizado o crime em 2020 não necessariamente ele seria julgado na pena máxima de 40 anos. Para isso teria que ter uma reforma no Código Penal a respeito da pena máxima de homicídio. O que pode ocorrer agora é que a pena pode chegar até 40 anos dependendo do número de agravantes que o réu tiver cometido.

 Na progressão de regime só teve alteração em relação ao tempo de quem praticou crimes hediondos. Para quem é primário e cometeu crime hediondo,  a partir do dia 23 de janeiro de 2020, terá de cumprir pelo menos metade da pena antes de conseguir a progressão do regime; e para quem é reincidente em crime hediondo, o prazo mínimo para a progressão do regime é de 70% da pena aplicada”.

No próximo dia 4  mais uma entrevista exclusiva. Aguardem!!!!!!!!!!!!!

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