Por Rúbia Rodrigues
Recentemente, uma das figuras mais influentes das redes sociais brasileiras, a empresária e influenciadora digital, Virgínia Fonseca, teve seu nome projetado com severidade pelos holofotes da mídia devido às investigações decorrentes da CPI das apostas online, conhecida popularmente como “CPI das Bets”. Em meio à turbulência, a influenciadora anunciou publicamente sua separação do cantor Zé Felipe, gerando especulações sobre uma possível estratégia patrimonial preventiva.
É importante pontuar que este artigo menciona o caso de Virginia Fonseca e Zé Felipe
apenas como exemplo recente, dada sua ampla visibilidade, para ilustrar uma questão mais abrangente. De fato, pouco sabemos sobre as reais circunstâncias dessa separação, o regime de bens adotado pelo casal ou se há mecanismos como holdings ou outras estruturas patrimoniais previamente constituídas.
Nosso foco aqui é outro: demonstrar a importância de não deixar para resolver questões matrimoniais e patrimoniais relevantes somente diante de situações emergenciais ou negativas.
O objetivo deste artigo é despertar a consciência para a importância do planejamento
antecipado e criterioso na proteção matrimonial e patrimonial. Trata-se de uma medida essencial para quem constrói, com esforço e visão de futuro, um patrimônio consistente. Ainda assim, não são poucos os que negligenciam esse cuidado, até que eventos inesperados, como crises pessoais ou disputas judiciais, coloquem em risco tudo aquilo que foi conquistado ao longo do tempo. Planejar, portanto, é uma atitude que preserva não apenas bens, mas também a estabilidade emocional e a relações, acumulando vínculos afetivos e patrimoniais sem o devido encerramento legal dos anteriores. Isso gera uma verdadeira confusão, não apenas emocional, mas sobretudo patrimonial.
Esse descuido compromete a clareza sobre o que pertence aquem e cria um cenário de grande insegurança jurídica. Se, mesmo dentro de umúnico relacionamento, já é essencial definir racionalmente e claramente o regime de bens, imagine o impacto de sobrepor vínculos sucessivos sem qualquer organização jurídica. A ausência de planejamento só amplia o risco de litígios e perdas futuras.
Deixar decisões matrimoniais e patrimoniais importantes para serem tomadas sob pressão ou durante períodos de crise aumenta consideravelmente os riscosfinanceiros e jurídicos. Em contrapartida, um planejamento prévio, uma análise detalhada de riscos e a adoção consciente de medidas preventivas permitem enfrentar crises de forma mais segura e tranquila.
O regime de bens adotado no casamento ou na união estável formalizada possui implicações diretas sobre o patrimônio pessoal e, em muitos casos, empresarial. Entretanto, mesmo após o casamento, a legislação brasileira permite alterações judiciais do regime originalmente escolhido, possibilitando maior segurança patrimonial conforme a evolução dos negócios ou das circunstâncias pessoais dos envolvidos.
Além disso, a proteção patrimonial não se limita ao âmbito conjugal. É essencial que
empreendedores, sócios e gestores estejam atentos à redação dos contratos sociais das empresas. Cláusulas bem elaboradas, que definam com clareza responsabilidades, limites e regras em caso de separação conjugal ou conflitos societários, são fundamentais para a estabilidade do negócio e a proteção dos bens particulares de cada envolvido.
Dessa forma, o planejamento matrimonial, patrimonial e societário é uma ferramenta
indispensável para quem ocupa posições de responsabilidade econômica ou visibilidade pública. A busca por orientação jurídica especializada, especialmente no campo do Direito de Família, contribui de maneira decisiva para uma gestão continuidade dos projetos de vida.
Muitos entram em uma união estável sem qualquer formalização jurídica, o que, por regra, sujeita o casal ao regime da comunhão parcial de bens. Outros encerram relacionamentos, sejam casamentos ou uniões estáveis, e não realizam a partilha de bens, tampouco formalizam esse fim perante a lei. Em seguida, iniciam novas preventiva eficaz, resguardando o patrimônio e promovendo segurança jurídica e tranquilidade pessoal.
Portanto, o caso recente envolvendo Virgínia Fonseca serve como um alerta simbólico: é preciso estar um passo à frente quando o assunto é a proteção dos vínculos, dos bens e da autonomia. A história nos mostra que relações humanas sempre estiveram ligadas à ideia de pertencimento, e, por consequência, à de propriedade. Como dizia Zygmunt Bauman, vivemos tempos líquidos, tempos em que nada é feito para durar, em que os vínculos se dissolvem com a mesma facilidade com que se formam. Os afetos, antes alicerçados em estruturas mais sólidas, hoje se esvaem na fluidez das conexões frágeis, imediatistas e, muitas vezes, mal resolvidas.
Nesse cenário de impermanência, onde tudo muda antes mesmo de se consolidar, o planejamento torna-se um gesto de resistência. Organizar juridicamente os vínculos e proteger racionalmente o patrimônio é, mais do que uma medida de cautela, um ato de maturidade. Reduzir as frustrações futuras exige que se pense, com lucidez, nas consequências de cada passo. E, parafraseando Peter Drucker, planejar continua
sendo a melhor maneira de prever o futuro.
Que o cuidado com os vínculos não seja apenas emocional, mas também estratégico.
Pois a serenidade na hora da tempestade é privilégio de quem se preparou enquanto
o céu ainda estava claro.
Rúbia Rodrigues é advogada, especialista em Direito das Famílias e Sucessões pela
Fundação Escola Superior do Ministério Público do Rio Grande do Sul (FMP-RS). Sócia
do escritório Rúbia Rodrigues Advocacia, possui mais de oito anos de experiência na
área, com atuação no Brasil e no exterior. Seu trabalho é marcado por um
atendimento diferenciado, pautado pela humanização e pela sensibilidade às
emoções e particularidades que envolvem cada situação jurídica.